Quem vê uma mulher grávida sempre acha que ela está na plenitude da vida, curtindo todos os minutos, que tudo é só alegria e felicidade. Mas, no meu caso, é tanta insegurança, tanto medo, tanto receio...
Quando estava grávida do Pedro foi assim. Lado a lado com a felicidade andava a insegurança. Tinha medo de não conseguir ser mãe, de não saber trocar fralda, de não entender por que o nenê está chorando, de mudar minhas qualidades enquanto esposa, de não dar conta da casa, do marido e do filho, medo do nenê não me amar, medo de não me adaptar às condições de mãe... Era tanto medo que quase todo dia eu ligava pra minha mãe com um medo novo, pedindo que ela me acalmasse. Ela sempre me dizia: "Um filho só vem pra dar mais alegria ao casal, não se preocupe! Você não vai parar de amar o Fernando porque vai amar o filho. O amor multiplica!". Conselho de mãe é sempre tranquilizador, mas mesmo assim o medo ficava lá no fundo, martelando, dizendo "Oi! Estou aqui! Tenha medo!". Eu nunca tinha cuidado de um nenê em toda a minha vida, só tinha trocado uma fralda do meu afilhado 6 anos antes (e mesmo assim levei quase meia hora pra isso), então meu nome era Insegurança. O Fe me dizia sempre que quando o Pedro nascesse o cérebro ia ativar a pasta "Mãe" e eu saberia automaticamente o que fazer, mas eu achava que era só pra me acalmar.
Aí o Pedro nasceu. E não é que o cérebro acessou a pasta "Mãe" mesmo? De uma hora pra outra eu sabia trocar fralda, segurar no colo aquele recém nascido molinho, amamentar, trocar roupa, acordava com qualquer chorinho, e sim, o amor multiplicou. De repente me vi amando tanto que não sabia que eu era capaz. E ao mesmo tempo que nasceu meu filho, eu nasci como mãe. Automaticamente. É claro que, como toda mãe do mundo, eu sempre acho que sou culpada por tudo o que acontece com ele, que sou insegura com relação a muita coisa, mas a parte Mãe em mim nasceu junto com o Pedro.
Eu refiz minha vida. Refiz minha rotina. Refiz minhas vontades. Refiz meu eu. Hoje ser mãe do Pedro pra mim é natural, acontece. Eu continuo amando tudo o que ele faz, cada dia mais do que o dia anterior -
Onde vai parar esse amor, meu Deus? - e pra mim não poderia existir filho mais perfeito. E é aí que começam os meus medos dessa segunda gravidez.
Não tenho mais medo de não saber ser mãe (descobri que às vezes eu não sei, mas faço o melhor de mim), de não entender por que ele está chorando (descobri que às vezes a gente simplesmente não entende), não tenho mais medo de não amar o Fe (descobri que o amor multiplica mesmo), não tenho mais medo de não dar conta de tudo (descobri que no começo é realmente difícil, mas depois tudo se encaixa) e não tenho mais medo de não saber o que fazer (porque descobri que na hora a gente descobre o que tem que ser feito). Meus medos agora são outros e envolvem a pessoa que, no momento, eu mais amo nesse mundo: o Pedro.
Se eu amo tanto o Pedro, como posso amar outra pessoa com a mesma intensidade? Pra mim ele é o mais perfeito que um filho pode ser, como pode outro filho chegar a ser tão perfeito assim? E sim, mesmo que na teoria eu ame os dois com a mesma intensidade, já que é isso o que me falam sempre, tenho medo de ter sempre preferência por um deles - no momento a preferência é o Pedro, já que é o filho mais perfeito do mundo pro meu mundo. Tenho medo do Pedro sentir minha falta durante o começo da vida do Daniel, já que um recém nascido requer atenção o dia todo. Vai quebrar meu coração ver ele se sentir "de molho", ainda mais agora que ele está tão carinhoso, que me abraça o tempo todo, que me vê parada, abraça minha perna e volta a brincar... Na verdade o medo é de sofrer de culpa por estar magoando ele. Quando você tem uma pessoa que é o ar que você respira e você sabe que vai acabar machucando-a sem querer, a culpa e o medo aparecem imediatamente.
Minhas amigas com experiência no assunto, mães de 2 ou 3 filhos, dizem que não existe preferência, que o amor é igual para todos os filhos e que cada um é especial à sua maneira. Mas como saber se eu nunca senti? Como não ter medo se é algo totalmente novo pra mim?
A culpa, sempre a culpa. Quando nasce uma mãe, nasce a culpa que vai acompanhá-la para sempre. E minhas preocupações são todas referentes à culpa que eu sei que vou sentir por não dar tanta atenção para o Pedro quanto eu gostaria, por ter que passar mais tempo não tão perto dele quanto eu gostaria, por não estar com ele o quanto eu gostaria de estar.
Mulher grávida é um paradoxo! A plenitude da felicidade e o terror da incerteza. Mesmo que eu saiba por experiência própria que quando o nenê nasce todas as preocupações somem, ainda assim tenho medo. Será que eu nunca vou aprender?