quinta-feira, 24 de junho de 2010

Santo de procissão

Cidade do interior é muito engraçada. Você sai na rua pra passear com o seu filho e pessoas que você nunca viu na vida te cumprimentam como se fossem velhos amigos. Não existe aquela tensão de cidade grande, onde ninguém fala com ninguém, praticamente ninguém se olha na cara. Aqui não. É tranquilo. Fora que sempre alguém conhece alguém que te conhece.

Uma vez, quando eu estava grávida, a Elisa me disse que quando o Pedro nascesse e eu fosse passear com ele pela cidade ficaria com raiva, porque nenê aqui é igual santo de procissão: todo mundo quer passar a mão. Achei que era exagero, que ela estava sendo engraçada, mas na primeira vez que fui com ele ao mercado já pude perceber que ela estava falando a verdade.

Mas ontem foi o auge. Saí com ele no colo para resolver algumas coisas no centro da cidade e acabei entrando em uma loja de sapatos que ainda não tinha entrado. Como você pode imaginar, a cidade é minúscula e é fácil perceber quando uma loja nova é aberta. É sempre bom ter opções, então lá fui eu ver o que tinha de bom (ou não) na loja.

Ao chegar na loja (que é uma casa) já pensei com os meus botões que tem coisa que só Tatooine faz pra você: uma das vendedoras, a mais velha, estava na porta comprando goiabada cascão, queijo e salame de um vendedor ambulante que anda por aí com uma caixa de isopor enorme, oferecendo os produtos para quem quiser comprar. Aí fui desviando dos dois, o vendedor ambulante estava com a caixa enorme bem no meio da entrada, me perguntando se eu gostaria de dar uma olhada nos produtos e a vendedora da loja já começou a pegar na mão do Pedro e falar a expressão mais usada aqui para bebês bonitos: "Que belezinha!"

Entre sorrisos amarelos e contorcionismos consegui entrar na loja. Quando estava quase saindo a vendedora que estava comprando produtos de origem duvidosa na porta entrou e veio na minha direção. Ela parou do meu lado e estendeu as mãos para o Pedro dizendo "Vem com a tia!"

Como assim, vem com a tia?? Eu nunca vi a mulher mais gorda! E o problema maior é que o Pedro é um tanto quanto sociável, fiquei com medo que ele estendesse os braços para ir no colo dela e já comecei a sair da loja, meio de lado, tirando ele de perto dela com medo que ele também quisesse ir no colo da suposta "tia". Quanto mais eu me afastava, mais a "tia" vinha perto, com aquelas mãos perto dele, tentando tirar ele do meu colo e me dizendo "Deixa eu pegar ele um pouquinho!", e eu pensando "Pedro, pelo amor de Deus, contenha-se!!" e falando pra ela que ele não gostava de ir no colo de estranhos.

Eu tentava sair, mas ela bloqueava meu caminho, me pedindo para pegar ele no colo. Ai, fala sério! Parecia pesadelo, em que você quer acordar mas não consegue. Aí tive uma idéia: olhei no relógio e disse "Nossa, já é essa hora? Estou atrasadíssima! Beijotchau!" e saí correndo da loja. Cheguei no carro até ofegante, tamanha minha pressa de fugir das garras pegajosas e insistentes da "tia".

Bem que a Elisa falou: santo de procissão! Da próxima vez levo ele de burka!

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